Texto de Geralda Ferraz publicado na coluna Opinião do Jornal O Popular.
De acordo com dados do IBGE (2015) existem hoje no Brasil 13, 5 milhões de trabalhadores rurais. Deste total, apenas 12% têm carteira assinada e 17% trabalham na informalidade, enquanto os demais estão na fatia dos agricultores familiares.
Além do trabalho formal alcançar apenas uma pequena parte dos trabalhadores rurais, a reforma trabalhista trouxe mais perdas para os trabalhadores que possuem carteira assinada. O deslocamento que antes integrava o salário foi retirado. Para alguns trabalhadores que viajam de uma a duas horas até o serviço, a perda salarial gira em torno de 20%. Outra mudança que prejudicou a classe foi a retirada dos adicionais de produção que passa a ser pago separado do salário. As mudanças deixaram as relações entre patrões e empregados mais desiguais.
Ao permitir a autorregulação em um mercado desigual, a tendência é que essa desigualdade aumente, pois não existe equilíbrio de forças entre patrão e empregado. A mudança na legislação está sendo considerada, inclusive, como um fator de aumento do trabalho escravo, pois dificulta o seu combate.
“Está claro que é preciso nos atentarmos para a realidade daqueles que sustentam esta nação”
Ao falar sobre o trabalhador e trabalhadora rural, falamos também daqueles que são responsáveis por 70% da produção de alimentos que vão para a nossa mesa. Sim, são os agricultores familiares que, com os poucos recursos que têm, alimentam a maioria das brasileiras e dos brasileiros.
Infelizmente os trabalhadores rurais enfrentam inúmeras dificuldades, estão a mercê da própria sorte e têm sua luta pela garantia da terra ameaçada, criminalizada. É uma luta desigual, onde prevalece não o interesse dos que promovem o nosso sustento, mas o interesse do agronegócio.
A bancada ruralista no Congresso Nacional é uma das mais fortes e faz prevalecer os interesses dos grandes latifúndios. Atualmente, por exemplo, a polêmica em Brasília gira em torno do projeto que flexibiliza as regras de utilização de agrotóxicos no País e concentra o poder decisório de registro de novos agrotóxicos no Ministério da Agricultura, retirando poderes do Ibama, do Ministério do Meio Ambiente e da Saúde.
O Brasil vive um dos mais difíceis momentos de sua história política. O País está dividido entre os interesses da nação e os interesses do capital. Está claro que é preciso nos atentarmos para a realidade daqueles que sustentam esta nação e que cuidam da terra como quem cuida de um ente querido. Sem a ganância que destrói e que não respeita limites e nem regras de bem viver.