É a primeira paralisação nacional da categoria. No estado, a mobilização está a cargo do movimento de entregadores antifascistas e da Associação de Motoristas de Aplicativos de Pernambuco (Amape), mas ambos fazem questão de frisar que a greve não tem cunho antifascista, mas sim de reivindicação por direitos básicos para estes trabalhadores. Em média, os entregadores envolvidos são jovens, têm entre 20 e 35 anos.
Os entregadores antifascistas tentam se firmar em Pernambuco com argumentos semelhantes aos de outros estados do Brasil: apartidários, em defesa da democracia e com uma pauta de direitos básicos. Em entrevista à Marco Zero, Pamella conta como trouxe o movimento antifascista de sua categoria para Pernambuco, quais as dificuldades para organizar a classe em torno da causa e como o movimento se posiciona em relação ao antifascismo e o Governo Federal.
O ato que marca a paralisação no estado acontecerá em frente ao Centro de Convenções, em Olinda, e está marcado para às 8h. Os grupos farão uma caminhada, com trajeto ainda a ser definido. É obrigatório o uso de máscaras para se somar à manifestação.
Como o movimento de entregadores antifascistas chegou em Pernambuco?
Pammela Silva – Quando comecei a trabalhar via as condições e eu não consigo ficar calada, eu sou muito assim. Levando as coisas para o pessoal, fui vendo que os clientes também reclamavam, até que eu vi uma matéria de Galo (liderança paulista do movimento de entregadores antifascistas), lá de São Paulo. Achei massa a questão do antifascismo e fui falar com ele pelo Instagram: E aí, qual é a de vocês? Como é que está acontecendo? Ele me passou o contato e me explicou. Gostei da ideia.
Pesquisei para ver se tinha alguma organização aqui em Pernambuco e não tinha. Então, ele (Galo) perguntou “Bora expandir?”. Eu disse: Bora! Eu já entrei no grupo da nacional para entender como era a articulação e criei logo a página de Pernambuco no Instagram. Só que quando eu criei, o antifascismo está muito presente e tem muita visibilidade, então a página foi logo subindo e fazendo sucesso. Pessoas procurando, tanto repórteres como entregadores. E aí eu vi que o negócio é sério.
Isso faz quanto tempo? Duas semanas. E o Instagram já está com 575 seguidores.
Como vocês estão se organizando aqui em Pernambuco?
Esse trabalho é de formiguinha. Primeiro que a categoria tem o pessoal que não gosta de política, tem de direita e tem esquerda. Quando a gente fala do antifascismo, as pessoas já pensam que é algo somente contra o governo federal e aí é muito difícil o convencimento. Só que a nossa pauta maior é para a categoria, o antifascismo é parte da nossa ideologia porque também somos seres pulsantes, sabe? Não só queremos aumento de taxas pelas entregas. Queremos um Brasil democrático. Quem está de frente mesmo somos nós, um grupo de sete pessoas, mas temos apoiadores que ajudam com quentinhas e outra coisas. A gente se juntou com a Amape (Associação dos Motoristas de Aplicativo de Pernambuco) e na primeira conversa tinha o problema de ser um ato político, mas eu penso que um protesto ou movimento é sempre político.
Vocês se dizem antifascistas. Querem dizer que combatem o fascismo do Governo Federal? Me diz o que é antifascismo para você…
Antifascismo é o recorte, a ideologia de uma parte dos entregadores que aderiu à greve. Lembrando que a greve é dos entregadores, por direitos e pela categoria, e o movimento dos entregadores antifascistas se aderiu. A luta é permanente, contra as práticas fascistas do Governo Federal e da população que está mostrando a cara.
Vocês encampam o “Fora Bolsonaro”?
Nós, entregadores antifascistas, sim. Agora, os entregadores em geral não, querem apenas direitos da categoria. Queremos algo além dos direitos, isso aqui é permanente.
Quando você começou a trabalhar como entregadora de aplicativo?
Eu era auxiliar administrativa e tinha carteira assinada há mais de um ano na empresa até ser demitida no começo da pandemia. Não tenho formação e comecei a entrar em aplicativos pra poder ter uma renda e conseguir trabalhar, mas só o Rappi me aceitou de primeira. Até hoje estou na fila de espera para trabalhar no ifood e na Uber.
Você falou que não tinha formação. No caso, é o ensino médio ou graduação?
Isso. Eu faço entrega e estou fazendo um pré-vestibular online para estudar e ver se eu consigo entrar na faculdade sem ter que pagar.
Você quer tentar vestibular para qual curso?
Eu penso na área de educação física ou pedagogia.
Você trabalha quantas horas por dia?
Do começo da tarde até meia noite. Eu como mulher não gosto de passar muito da hora por questão de assédio, porque a gente acaba tendo que lidar com gente que já está um pouco alterado e acaba ouvindo algumas gracinhas. E aí eu vou até meia noite, no máximo. Até a União Brasileira de Mulheres (UBM) entrou em contato comigo para dar algumas ideias e a gente está conversando. Veio até uma ideia pra colocar em pauta. Isso ainda será conversado, mas a ideia é de colocar um suporte no aplicativo para pedir ajuda para qualquer coisa que acontecer com as mulheres entregadoras.
Vi que vocês têm chamado os entregadores para a paralisação nas redes. Tem funcionado?
São poucas pessoas, a gente está fazendo a mobilização mais na conversa. Quando vou entregar algo, encontro quatro ou cinco entregadores, aí eu pergunto se estão sabendo da greve para saber qual é a dessas pessoas. Só que, quando vamos falar com alguém, a gente não começa diretamente com o antifascismo, primeiro nós falamos das pautas da categoria. Aos poucos, a gente vai explicando que não é contra o Governo Federal, mas sim em favor da categoria da gente. E que isso, o antifascismo, é uma ideia e uma ideologia que temos. A galera da Amape não está somada aos entregadores antifascistas, mas está na mobilização da categoria. O antifascismo é um trabalho de formiguinha, de pouco em pouco. Na internet, tem muito proporção porque é muita gente que entende e ajuda, mas entre os entregadores é muita divisão. De pouquinho, a gente consegue juntar quem concorda, mas realmente é bem difícil.