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Via: Estadão
A pandemia do novo coronavírus expôs os abismos econômicos e sociais brasileiros e escancarou a situação de desigualdade em que vivem homens e mulheres no país. Os casos de violência doméstica dispararam durante o período de isolamento social, desde que as mulheres passaram a conviver 24 horas por dia com seus algozes dentro de casa. Em alguns estados brasileiros, o aumento foi de até 50%.
Os casos de feminicídios e agressões físicas podem ser medidos em números, mas a violência silenciosa a que muitas estão expostas não entra nas estatísticas oficiais: o abuso psicológico, as agressões verbais, a má distribuição de tarefas e a consequente sobrecarga física e mental a que estão sujeitas fazem com que se tornem, ao lado da população preta, o público mais afetado pela pandemia.
Não é segredo que a sobrecarga de afazeres domésticos aumentou durante a quarentena. Além do teletrabalho, as mulheres não encontram igualdade na divisão de tarefas e ainda têm que acompanhar os filhos nas aulas virtuais, uma nova atividade que se soma à dupla jornada. Dados divulgados em 2019 pelo IBGE, apontam que as mulheres dedicam 18,5 horas semanais com afazeres domésticos, enquanto os homens, apenas 10,3 horas.
Quando o assunto é emprego, a situação é especialmente dramática para elas. Segundo estudo feito no ano passado pelo IBGE, as mulheres são maioria entre os desempregados, têm renda menor e estão mais sujeitas à informalidade que os homens. Combinando essas informações com o fato de cerca de 29 milhões de famílias brasileiras serem chefiadas por mulheres, muitas delas “mães solo”.
Sem trabalho e sem ter como sair de casa para exercer a informalidade, muitas famílias dependem exclusivamente do auxílio emergencial e de ações beneficentes para colocar comida na mesa.
Diante deste cenário, a conclusão é óbvia: é passada a hora dos governos em todas suas esferas de atuação – municipal, estadual e federal – implementarem políticas públicas para romper a desigualdade econômica e salarial; promover assistência completa e adequada às vítimas da violência doméstica e seus filhos; investir em campanhas educativas sobre os malefícios do machismo e na reeducação dos agressores.
Enquanto não houver uma ampla frente de combate à violência contra a mulher, aliada a políticas de equidade de gênero, nossa sociedade continuará ostentando índices alarmantes de desemprego e violência, submetendo milhares de mulheres a uma vida de medo e a inúmeros sofrimentos e martírio diários para que possam garantir a própria sobrevivência e o sustento de suas famílias.
*Mônica Gamboa é delegada da Polícia Civil do Estado de São Paulo, criminóloga especialista em prevenção da criminalidade e violência doméstica, professora da Academia de Polícia Civil e autora das obras Resumo de Criminologia e Questões Comentadas de Criminologia