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Texto: Julia Latorre
Houve momentos da história, como a ditadura militar, por exemplo, em que a luta feminista chegou a ser tratada como alienada diante da gravidade de outros problemas. COVID-19 é pauta/crise em 2020. É então que muitas questões deixam de ser prioridades, planos são adiados e pautas são engavetadas devido às circunstâncias.
Um pensamento interseccional, entretanto, pede e permite que questões que se propagam com o coronavírus sejam analisadas com tanta importância quanto à pauta macro. Muitas delas, aliás, relacionadas a gênero, raça e classe, vêm sendo abordadas, até mesmo, pela mídia tradicional.
Eis aqui algumas questões relacionadas à pandemia do coronavírus que não justificam uma alienação midiática dos feminismos:
Uma pandemia agrava qualquer quadro de desigualdade e escancara as diferenças. Parece que a velocidade com que as estatísticas avançam atualmente não permite que o tratamento dos números divulgados referentes à crise do coronavírus sejam divulgados e discriminados por sexo, raça e cor. Uma vez que isso aconteça, a análise do quadro possivelmente revelará que se um grupo foi mais afetado, é porque existem não equidades nas ‘soluções’.
O androcentrismo em estudos médicos é uma realidade: tantos problemas ‘humanos’ e seus sintomas são divulgados e estudados tomando como base um indivíduo do sexo masculino. Formigamento no braço esquerdo e dor no peito, os sintomas mais conhecidos de um infarto, por exemplo, na verdade são sintomas comuns nos homens. Você sabia que os sintomas de infarto em mulheres podem ser apenas falta de ar, cansaço e tontura?
As jornadas exaustivas das equipes de enfermagem são, de acordo com a Pesquisa Perfil da Enfermagem’, divulgada pelo Conselho Federal de Enfermagem e Fundação Oswaldo Cruz, compostas por 85% de mulheres. Em contra a tendência comentada de não discriminar estatísticas por sexo, raça e cor, a Agência Gênero e Número em parceria com a Revista AzMina apresentou e contextualizou o trabalho das enfermeiras na crise do COVID-19:
Isso em uma perspectiva de gênero macro nos leva à discussão das teorias maternalistas e a influência que o fardo social de cuidar da casa e da família tem sobre as profissões exercidas.
Falando em profissões, nos primeiros dias da quarentena, essa questão entrou já entrou em pauta. A situação de uma trabalhadora da esfera pública versus o panorama de setores sociais que são composto majoritariamente por mulheres. Milhares de trabalhadoras autônomas como diaristas, esteticistas, cabeleireiras e trabalhadoras informais não terão faturamento se as suas clientes e patroas não agirem com consciência de classe, além de medidas governamentais. A classe das trabalhadoras domésticas não foi citada, considerando o cenário otimistas de que os seus direitos enquanto trabalhadoras formais com carteira assinada estejam sendo respeitados, tal qual o de seus patrões.
Retornando à pauta dos cuidado quando mencionamos a feminização do trabalho das enfermeiras, lembremos-nos que os estudos de gênero também explicam a atribuição das funções de cuidado pelas mulheres, também como uma construção sócio-estrutural de gênero. Até o momento da conclusão deste texto, só no estado de São Paulo, a projeção indica que 9 milhões de pessoas poderão ser infectadas pelo coronavírus.