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Antifeminismo: como ele fere pessoas de todos os gêneros, incluindo homens. - Mulheres na Comunicação

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Antifeminismo: como ele fere pessoas de todos os gêneros, incluindo homens.

Via: Blogueiras Feministas

Dia desses enquanto eu conversava casualmente sobre exemplos de misoginia internalizada com algumas conhecidas, uma delas disse “não me considero feminista pois apoio o direito de todos. Gosto mais do termo humanista”. Logo, uma terceira pessoa disse que também preferia o termo humanista por não acreditar que as mulheres sejam melhores que os homens.

Quero deixar claro que não acredito que nenhuma delas sejam ativamente antifeminista, mas, no decorrer dessa conversa, ficou claro para mim que o feminismo ainda é muito mal interpretado. Principalmente quando se trata de quem se beneficia e a quem ele supostamente prejudica. Então, para esclarecer certos pontos acerca desse tema, acho importante entendermos que, o feminismo não é sobre supor que qualquer gênero seja superior ao outro. Ele não é um movimento criado para promover os direitos de um determinado grupo em detrimento de outro.

O objetivo do feminismo é desconstruir um sistema de opressão que existe baseado em gênero, algo que muitas feministas sabem que deve ser feito em conjunto com o combate a discriminação em suas inúmeras formas. Mas, devido a uma combinação de misoginia internalizada, com o bom e velho mal-entendido e vários erros no próprio movimento feminista, muitas pessoas não reconhecem que o feminismo pode beneficiar pessoas de todos os gêneros.

A ideia de que o antifeminismo prejudica todos, incluindo homens, ainda é difícil para muita gente aceitar e entender.

Mulheres jovens numa manifestação. Uma delas tem escrito nas costas com tinta guache: sou livre! Foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Com isso em mente, segue abaixo algumas coisas que você deve saber para ajudar a esclarecer a confusão acerca desse tema.

1. O patriarcado machuca a todos

Antes de tudo, acho interessante ressaltar que, embora indivíduos possam ter ideias patriarcais, quando usamos esse termo não estamos colocando a responsabilidade em ninguém isolado. Me refiro ao sistema social injusto que impõe papéis de gênero rigidamente divididos, e ao fazer isso, oprime determinadas pessoas. Esse sistema geralmente é composto de mecanismos sociais, políticos e econômicos que promovem o domínio cis masculino sobre todos os outros sexos.

Um exemplo disso é, como as sociedades patriarcais dizem aos homens que eles devem ser movidos pelo sexo, que sejam agressivos, dominantes e que não demonstrem muita emoção. Quando essas expectativas não são atendidas, eles são punidos e até ridicularizados. Pense em todas as vezes que você ouviu alguém dizer que “meninos não choram”. Depois, pense em como essas crianças crescem assumindo que a masculinidade tóxica é a única maneira de se protegerem contra uma das maiores estratégias do patriarcado: a constante lembrança de que não há nada pior do que ser visto como afeminado.

De primeira, pode parecer que as minorias de gênero são as únicas vítimas do pensamento patriarcal. Mas quando nos aprofundamos um pouco, fica claro que esse está longe de ser o caso.

2. A base do antifeminismo não se alinha com os valores realistas

Sempre existiram pessoas que não mediram esforços para ajudar a evoluir nossa compreensão dos papeis de gênero. Geralmente, essas mesmas pessoas são contra a expansão dos direitos de grupos tradicionalmente marginalizados. Já existiu oposição ao sufrágio das mulheres, existiu oposição a pílula anticoncepcional e ainda existe uma forte oposição a luta por direitos humanos básicos para pessoas de todas as identidades, gêneros e orientações sexuais.

As origens do movimento antifeminista moderno surgiram da oposição específica ao aborto legal. Essa questão importante era discutida por motivos religiosos e conservadores, mas não demorou muito para que esses sentimentos se transformassem em um movimento antifeminista. Você pode estar pensamento que seria natural, com o passar do tempo e o acesso maior a dados que comprovam o benefício da legalização, que muitas pessoas viriam a discordar da lógica religiosa de tais visões. No entanto, isso não parece acontecer muito nos círculos antifeministas.

Isso acontece porque em parte é comum escolher a religião que melhor lhe convém. Muitas vezes isso funciona. Outras vezes, como quando você usa a religião apenas para justificar seu direito de oprimir outras pessoa (como os donos de escravos faziam antigamente, ou como pessoas costumam fazer atualmente ao tentar desafiar os direitos de toda uma gama de pessoas marginalizadas) não muito.

Hoje, muito desse hype acerca do antifeminismo vem de indivíduos que se autodenominam “ativistas dos direitos dos homens”. Essas pessoas podem usar o argumento de que coisas como leis de custodia e requisitos de pensão alimentícia são injustas para os homens. Alguns até mesmo acreditam em uma conspiração liderada por feministas para acusá-los falsamente de estupro.

Sem contar quando tendem a citar histórias imaginadas em que papéis incrivelmente tradicionais de gênero resultaram em harmonia e prosperidade, se não para todos, pelo menos para os homens brancos que muitos desses afirmam representar. E, é claro, existem muitas minorias de que se opõem ao feminismo. Mas é importante distinguir entre os que se opõem ao feminismo e aqueles que optam por não se alinhar ao movimento. As razões para cada uma dessas escolhas são bem diferentes, até porque de fato, o movimento feminista tem seus tropeços.

Historicamente, tivemos tentativas sufragistas de brancos para marginalizar as mulheres negras e seu papel no movimento. Tínhamos também feministas que negavam um lugar a mesa a mulheres bissexuais e lésbicas e trans. Atualmente, ainda temos que explicar porque a interseccionalidade é fundamental, desafiar o domínio do feminismo branco e questionar o modelo corporativo de empoderamento.

Porém, existe uma diferença entre optar por não se identificar como feminista por causa de algumas dessas questões e trabalhar ativamente contra as principais metas nas quais o feminismo se baseia. E se formos analisar, muitas das mulheres que se portam de forma hostil ao feminismo não estão desafiando os problemas internos do movimento. Em vez disso, elas estão vivendo sob a ilusão de que apoiar o feminismo as coloca em oposição aos homens (o que não é verdade) e que isso significa que elas não podem abraçar causas como feminilidade ou domesticidade.

Enfim, todos temos direito a nossos próprio pontos de vista. Mas quanto mais as pessoas entenderem as motivações do movimento antifeminista, menor a probabilidade de seguirem apoiando-o.

3. Aqueles que se opõem ao feminismo estão na verdade se opondo a distribuição igualitária de poder

O feminismo existe para desafiar as estruturas tradicionais de poder da sociedade. Portanto, faz sentido que as pessoas que se beneficiam dessas estruturas se oponham a qualquer coisa que tenha o potencial de perturba-las.

Embora isso seja logicamente preocupante, não é como se todas as pessoas que sustentam discursos antifeministas estejam ganhando muito com o atual estado das coisas. Essa é uma das melhores táticas usadas para sustentar esse sistema: convencendo as pessoas de que elas merecem privilégios que não obtiveram simplesmente pela presença das qualidades que possam possuir.

É isso que encoraja essas pessoas a impor o status quo, pois foram convencidas de que permitir mudanças os prejudicara a nível pessoal, mesmo que frequentemente o oposto seja verdadeiro. Muitos homens não se sentem poderosos em seus empregos ou em suas vidas pública mas, dentro de um sistema patriarcal, a narrativa de que eles tem direito de manter autoridade sob suas famílias é reforçada.

No entanto, quando esse cargo chefe de família é desafiado, muitos homens agem contra seus próprios interesses e continuam apoiando um sistema que os humilha com base em uma série de outras características pessoas, como raça, classe e religião. Alguns homens com essa experiência podem se opor fortemente ao feminismo. Isso se deve a uma suposição reacionária de que é o feminismo, e não o elenco de apoio da supremacia branca e do capitalismo do patriarcado, o culpado por essas dificuldades.

Tudo isso apenas reforça um sistema em que a única maneira de as pessoas em posições subjugadas sentirem poder é dominando outras pessoas que possuem ainda menos. O feminismo no entanto, é um movimento sobre igualdade que visa combater o sexismo e também toda e qualquer forma de dominação. O feminismo inclusive, é uma ferramenta muito útil para ajudar todos a avançar diante das forças que realmente os estão impedindo de faze-lo.

Meu relacionamento com o feminismo vem mudando bastante ao longo dos últimos anos. Deixei de ser uma menina com aspirações ativistas para me tornar uma pessoa que está comprometida em trabalhar para encontrar maneiras de tornar este mundo mais justo. Mesmo que seja apenas conscientizando as pessoas ao meu redor. E faze-lo sob essa estrutura feminista funciona para mim.

Embora eu entenda que essa não é a estrutura certa para todos, o que me preocupa mais que os rótulos é que as pessoas descartam algumas das vitórias suadas do feminismo simplesmente porque elas não entendem o que na verdade é o movimento.

Ou porque existem forças complexas que trabalham ativamente para tirar sua credibilidade. Essas mesmas forças, vendem as pessoas uma visão falsa de quem é o culpado pela sua opressão.

Quando percebemos que a visão feminista não é sobre prejudicar os homens, ou colocar mulheres como superiores a todos os outros gêneros, as reivindicações dos antifeministas se tornam muito mais difíceis de apoiar.

Referências
hooks, bell, 1952-. Feminism Is for Everybody : Passionate Politics. Cambridge, MA :South End Press, 2000.

Autora

Ana Carolina da Mata, 33 anos. Mineira se aventurando como Relações Públicas nos Estados Unidos. Conciliando a vida profissional com o amor pela causa do feminismo interseccional e a luta para aumentar a conscientização de cada vez mais pessoas ao meu redor.

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