Como Iemanjá se tornou o orixá mais pop da arte brasileira
Via: O Globo
Poppularizada em canções de Caymmi, livros de Jorge Amado e pinturas de Carybé, deusa das águas é objeto de homenagens de artistas Brasil afora
“Dois de fevereiro / dia da rainha / que pra uns é branca / pra nós é pretinha”. Os versos de Emicida em “Baiana”, canção de 2015, são uma de incontáveis referências a Iemanjá na arte brasileira. Do cinema de Glauber Rocha às pinturas de Carybé e Abdias do Nascimento, o orixá mais pop do Brasil segue inspirando artistas dentro e fora dos terreiros, numa produção tão vasta quanto o mar que lhe foi dado como domínio do lado de cá do Atlântico.
Como outras divindades que hoje compõem o panteão afrobrasileiro, Iemanjá nos foi trazida pelos negros sequestrados na região da atual Nigéria. Por lá, ela era considerada não a deusa dos oceanos, mas, sim, a protetora do rio Ogun, segundo o doutor em Sociologia e babalorixá Armando Vallado, autor de “Iemanjá, a grande mãe africana do Brasil” (Pallas). Para o pesquisador, a popularidade do orixá por aqui se deve à associação com a Virgem Maria e o próprio mar.
— A saudação a Iemanjá, “Odoyá”, significa “a mãe do rio”. No Brasil, ela se tornou a mãe do mar porque o culto a Olokun, a divindade original dos oceanos para os povos iorubás, acabou perdendo força por aqui. Essa associação de Iemanjá ao mar, que ladeia grande parte do território brasileiro, foi um primeiro impulso para a popularização de seu culto. Outro motivo é o sincretismo com a Virgem Maria, promovido, especialmente, pela umbanda. Nos mitos africanos, ela não é só uma mãe: é também uma guerreira, uma amante, uma mulher capaz de uma série de atos, da sedução ao assassinato — explica.