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Por: Talitha Benjamin
O processo de escravidão, que durou cerca de 300 anos, foi responsável pela destruição da identidade e da estética negra, e até hoje, os efeitos colaterais dessa opressão são sentidos em todas as partes do mundo, principalmente por pessoas e que fogem do padrão eurocêntrico, não apenas no sentido físico, mas também nos costumes e culturas.
Em resposta à essa visão racista e limitada, o Afrofuturismo surgiu enquanto um movimento estético e artístico que tem como objetivo de aliar ancestralidade com tecnologia e futurismo para reimaginar um novo mundo, onde as pessoas negras se encontram no centro, protagonistas de uma nova realidade.
Nos dias de hoje, a estética negra e africana já é algo diferente do normal, vista muitas vezes como “exótica”. O afrofuturismo propõe trazer os recursos da África e dos ancestrais negros para que um novo futuro seja construído, onde a negritude é motivo de orgulho, livre de preconceitos dos padrões eurocêntricos.
Apesar de ser amplo e abrangente, estando presente nas artes plásticas, na música, no cinema, na literatura e em muitos outros meios, o afrofuturismo brilha mesmo é na moda e nos cabelos. Com elementos do movimento hi-tech, o conceito mistura estampas milenares africanas, abusando do prata e do ouro, mas apostando também no simples preto e branco algumas vezes.
Nos cabelos crespos é onde o afrofuturismo encontra a sua essência. O cabelo é uma parte muito importante do processo identitário da pessoa negra, e o afrofuturismo leva isso a patamares extremos, brincando com formatos absurdos, linhas geométricas, cores e volume, aproveitando a facilidade de moldar esse tipo de curvatura.
Renato Oliveira tira da rebeldia dos jovens negros do passado a inspiração para o seu trabalho. Morador do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, ele chegou a trabalhar em estabelecimentos de alto padrão, mas não se sentia representado: “Foi então que usei minhas influências culturais e musicais para criar um novo conceito de barbearia, onde pessoas negras se sentissem acolhidas”, relembra o barbeiro de 31 anos.
Os cortes de cabelo realizados por Renato são inspirados na estética dos jovens negros da cultura hip-hop e punk, mas as linhas geométricas e os famosos “risquinhos” trazem um ar futurista aos cabelos crespos.
“Na hora da finalização, vejo que a pessoa se sente mais confiante e feliz. Isso é algo que não tenho nem palavras para descrever. Quando você consegue contribuir com algo para sua comunidade, você sente que seu trabalho é importante, e que você é uma influência para os outros”, desabafa Renato, que também destaca a importância de valorizar a cultura dos ancestrais, já que o passado e o presente andam entrelaçados.
A transformação, no entanto, não é apenas estética. Renato, idealizador da barbearia Black Rockers (nome que homenageia os negros responsáveis pela criação do rock e do blues), também investe em projetos sociais, como um que visa atender mulheres negras em situação de desemprego.
“Por ser negro e acompanhar a dura realidade dessas mulheres, acabei criando esse projeto para dar um pouco de autoestima nesse momento difícil que o país se encontra”, conta o barbeiro.
A mobilização social de pessoas negras é parte extremamente importante do movimento afrofuturista, já que colocar negros como protagonistas de suas histórias mostra que eles são capazes não só de transformar a própria realidade, mas também a sociedade como um todo. A identidade e a estética negra, dentro desse movimento, deve ser preservada como patrimônio ancestral, e dessa forma, ser motivo de orgulho e valorização.