Publicado no jornal O Popular, 22.02.2019
Rio de Janeiro, fevereiro de 2019: dez jovens morrem carbonizados na concentração do Flamengo. Goiânia, maio de 2018: dez jovens morrem carbonizados em uma cela! Enquanto as vítimas do “Ninho do Urubu” buscavam no futebol, a realização de seus sonhos, as vítimas do Centro de Internação Provisória (CIP), tinham um sonho em comum, a liberdade!
A violência que mata, tem um perfil de vítimas: na maioria negros, de origem pobre, que sonham ficarem ricos, tirar a família da pobreza e serem reconhecidos, assim como seus ídolos! A gente sabe que este é um sonho de milhares de jovens. Muitos inclusive, usados por pessoas que se autointitulam empresários e que enriquecem como este tipo de negócio. Quantas famílias não se sacrificam, para financiar o sonho dos filhos e os seus?
Vivemos tempos difíceis! Durante os últimos 30 anos testemunhamos avanços e conquistas sociais baseadas em leis que pensavam a educação de crianças e jovens; a inclusão da população negra empobrecida! Presenciamos movimentos, organizações não governamentais reivindicando junto aos governos a garantia de tais direitos, mudando a história e o destino de milhares de jovens.
Ainda que os avanços existissem, era claro que havia muito por fazer! A mudança de paradigmas, da meritocracia, para o direito de todos; do Brasil no mapa da violência, para a diminuição das desigualdades, estava longe de ser alcançada.
Com os últimos acontecimentos sociais e políticos em nosso país, eis que o dito popular “nada é tão ruim, que não possa piorar”, tem ganhado formas de filme de terror. Medidas governamentais que congelam investimentos em áreas estruturantes como Educação, outras que autorizam policiais atirarem para matar, possibilitando execuções dos que estão em condições de vulnerabilidade; extinção de ministérios e secretarias e a nomeação de pessoas sem perfis técnicos para áreas estratégicas, nos deixam apreensivos e desesperançados!
Se nada for feito em favor das vidas de nossas crianças e jovens que vivem à margem da sociedade, em pouco tempo teremos um exército de jovens enclausurados em um sistema penitenciário falido e outro tanto mortos em “confrontos” ou tragédias anunciadas. Diante disso, não é preciso fazer exercício de futurologia: a realidade já aponta para um país envelhecido que sacrifica sua juventude em nome de falsas políticas desenvolvimentistas!