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Morre, aos 98, o sambista baiano Riachão

Via: Carta Capital

 

“Uma vez [o compositor baianoRiachão estava numa discussão com [a cantora e compositoraDona Ivone Lara [1922-2018], se o samba nasceu no Rio ou na Bahia. Eu, calado, chamaram [o compositor maranhense Antonio] Vieira. “Vieira, o samba nasceu aonde? No Rio ou na Bahia?” Ele disse “nem um nem outro, nasceu no Maranhão!” [gargalhadas]. E acabou a discussão”.

Quem conta a história é o percussionista maranhense Arlindo Carvalho, um dos fundadores do Regional Tira-Teima, ao lado de Antonio Vieira, no final da década de 1970. Mas Riachão não se dava satisfeito, para além do anedotário. Ao jornalista Jotabê Medeiros, em texto intitulado justamente “Onde nasceu o samba?”, declarou certa vez: “O pai do samba é o samba de chula. E o samba nasceu na Bahia, porque o Brasil nasceu na Bahia”.

Bahia, a terra natal de Riachão, nome artístico do sambista Clementino Rodrigues, sempre cantada em seus versos. Como em “Eu vou chegando”, que abre “Mundão de ouro” (2013), o mais recente de seus parcos três discos solo: “Eu vou chegando da Bahia/ trazendo um pouquinho de alegria”, começa a letra.

Ao lado de Batatinha (Oscar da Penha, 1924-1997) e Ederaldo Gentil (1947-2012), Riachão (14/11/1921-30/3/2020) formou uma tríade de autores originalíssimos, que expunham com crueza, por meio de seus sambas, temas que vão do amor às desigualdades sociais, da crônica de costumes às relações homem-mulher, às vezes resvalando no politicamente incorreto.

O número de composições de Riachão é impreciso, algo muito comum no universo do samba: autores não registram, não têm dimensão da própria obra e esta pode vir a ser perdida com a memória do compositor. Estima-se que tenha composto entre 300 e 500 músicas. Havia um projeto de resgate e registro deste repertório, agora interrompido com a morte do artista.

Riachão estava em estúdio, gravando um novo álbum, que pretendia lançar este ano. intitulado “Se Deus quiser eu vou chegar aos 100”, o disco trazia repertório inédito e autoral.

De sua lavra, há pelo menos três clássicos: “Cada macaco no seu galho”, gravada (1972) e regravada (1993) por Caetano Veloso e Gilberto Gil, “Vá morar com o diabo”, mostrada ao Brasil por Cássia Eller em seu último disco lançado em vida (“Acústico MTV”, de 2001), e “Baleia da Sé”, regravada pelo grupo Moinho, da atriz e cantora Emanuelle Araújo.

Velório – A família enviou a seguinte nota aos meios de comunicação:

É com grande tristeza que nós, familiares, comunicamos o falecimento do nosso querido patriarca, Clementino Rodrigues, carinhosamente conhecido como o sambista Riachão! Riachão faleceu em casa, de causas naturais, na manhã desta segunda-feira [30], junto de sua família! O velório acontece no cemitério Campo Santo e o sepultamento ocorrerá às 16h. Levando em consideração o decreto que proíbe a aglomeração de pessoas por conta da pandemia do coronavírus, a entrada de pessoas no velório será rotativa e limitada.

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